Game parodia tráfico de informações pessoais e venda de dados na internet

14:02

No jogo, enfermeira vende registro médico e hacker, senha de cartões.
Com arrecadação de US$ 50 mil, game vai ganhar versão multiplayer on-line

Um game on-line que parodia a venda de informações pessoais na internet surfou na onda de espionagem do governo dos Estados Unidos para conseguir financiamento e agora vai ganhar versão multiplayer on-line.
Com o prazo para contribuições financeiras encerrado nesta quinta-feira (12), o game austríaco “Data Dealer” arrecadou mais de US$ 50 mil por meio do site de financiamento coletivo Kickstarter.
“Eu acredito que nossa abordagem irônica permite aos jogadores melhorarem seu entendimento sobre questões centrais como: Que tipo de dados pessoais existem? Quem está coletando essas informações e o que querem com elas? E o que isso significa para mim e meu futuro”, afirmou aoG1 Wolfie Christl, uma das responsáveis pelo game.
Apesar de tratar de um assunto sério, os desenvolvedores são bem humorados ao descrever o jogo. Para eles, o game é o “filho bastardo de um tímido jogo do Facebook [Farmville] e o ‘Mad TV’, game de simulação da TV dos anos 90, renascido com a alma do seriado ‘South Park’". Achou muito grande? Há uma descrição mais sucinta, que revela a motivação do jogo. “Ou simplesmente: Prism. O jogo”, resumem os criadores.


A alcunha faz menção ao programa utilizado pela Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) para coletar dados pessoais de serviços na internet das empresas de tecnologiaApple , AOL, FacebookGoogleMicrosoft,Yahoo!, Skype, YouTube e Paltalk, revelado em junho pelos jornais “The Guardian” e “The Washington Post”. Na semana passada, “O Globo” mostrou que a espionagem se estende ao Brasil.
“Na era digital, quase tudo que fazemos é gravado, rastreado ou monitorado de alguma forma. Ao mesmo tempo, a maioria das pessoas está completamente enfastiada com toda essa pregação de que é preciso tomar cuidado ao usar redes sociais e smartphones –principalmente, crianças e adolescentes. Foi daí que surgiu a ideia de criar um jogo divertido e casual em que os jogadores assumem o papel do vilão que coleta e vende dados.”
Traficante de informação
Atualmente, é possível jogar uma versão limitada do jogo. Mas em breve, dizem os desenvolvedores, irão lançar a plataforma on-line e multiplayer. A mecânica é simples: coletar milhões de perfis de usuários de diferentes fontes, importá-los para um banco de dados para revendê-los depois. Compram informações companhias de seguro de vida, imobiliárias, agências de segurança e grandes corporações interessadas em ultilizá-las para selecionar seus funcionários.
As “fontes”, a maioria delas traficantes de informação, vão de agentes de saúde e hackers a sites de relacionamento. A enfermeira Mildred, por exemplo, possui os dados de 12 mil pacientes que passaram nos últimos 20 anos pelo hospital onde ela trabalha. Afora informações banais como nome, sobrenome e número de celular, está em posse da funcionária o registro médico dos pacientes e quais são suas doenças crônicas.
Já o hacker de codinome Tio Enzo invadiu a rede de uma grande empresa de games on-line e acessou os dados de 50 mil jogadores, como número de cartão de crédito, número de IP, senhas e jogos de computador preferidos.
Nem tudo é impune no jogo. O risco de manter a operação de compra e venda de dados aumenta dependendo dos tipos de informações incluídas e, principalmente, como foram conseguidas, pois pode se tratar de uma situação ilegal.
Wolfie Christl, um dos fundadores do game "Data Dealer", que parodia a compra e venda de dados pessoais na internet (Foto: datadealer.com CC-BY-SA)Wolfie Christl, um dos fundadores do game "Data
Dealer", que parodia a compra e venda de dados
pessoais na internet
(Foto: datadealer.com CC-BY-SA)
Pré-Snowden
O desenvolvimento do game começou em 2011, antes de a espionagem da NSA vir à tona. Mas a versão em inglês foi lançada poucos dias antes do caso explodir. Faz parte dos planos dos desenvolvedores verter o game para o português.
“Nos últimos dois meses, recebemos várias propostas de fãs entusiasmados de todos os cantos do mundo para ajudar na traduzir do jogo para diversas línguas. Nos adoraríamos traduzi-lo para o português e iremos trabalhar nisso”, afirmou Christl.
Sem fins lucrativos, o “Data Dealer“ é gratuito. Sua versão on-line será lançada com uma licença de Creative Commons.
Matéria-prima de grandes corporações de tecnologia como Facebook e Google, a informação pessoal é assunto de Estado para as administrações de países da Europa e Estados Unidos. Nesta sexta-feira, a espionagem a dados pessoas foi tema da reunião da cúpula do Mercosul. Mas com tantas provas da seriedade do assunto, é possível que um jogo seja capaz de fazer as pessoas enfim priorizarem a privacidade de seus dados pessoais?
“Muitas pessoas nos disseram que estão mais cuidadosas com o seu comportamento em relação a suas informações pessoais após jogar nosso game. Então, acho que sim”, responde Christl. “Mas é melhor jogar e tirar suas próprias conclusões”.
Imagem do game "Data Dealer", que parodia a compra e venda de dados pessoais na internet (Foto: Reprodução/Datadealer.com)

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